TANTAS-FOLHAS
Biblioteca

Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais


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Fonte da Praça da Liberdade. Foto: arquivo pessoal.

Para dar início a esta coluna, que recebe o sugestivo nome de “A biblioteca da cidade”, optei por apresentar a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, escolha que decorreu das seguintes justificativas: é a principal biblioteca pública da cidade de Belo Horizonte (a cidade onde moro), e está inserida em uma estrutura que deveria ser padrão para as demais capitais do país. 

Antes de avançar sobre pontos significativos que envolvem essa Biblioteca, gostaria de destacar um fato curioso: BH não possui uma biblioteca pública municipal, e ainda que disponha de um quantitativo de bibliotecas vinculadas à Fundação Municipal de Cultura, não possui uma biblioteca especificamente criada para ser apresentada como a biblioteca oficial do município de Belo Horizonte.

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Figura 1. Fachada da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais.

 É por isso que ao pensarmos sobre a biblioteca pública dessa cidade, o que vem à mente é à Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais ou “Biblioteca da Praça da Liberdade”, como é coloquialmente chamada devido a sua localização junto a uma das mais belas praças do centro histórico da cidade

Belo Horizonte é considerada a primeira cidade brasileira projetada para se adequar às inspirações de um modelo urbanístico moderno, baseado em espaços amplos e arborizados (fisionomia completamente diferente da antiga capital do estado, a colonial Ouro Preto). 

Consta que antes de ser inaugurada, contou com ideais em prol da formação de uma biblioteca pública, tendo nascido assim a “Sociedade Literária Bello Horizonte”, que funcionava em espaço provisório e dispunha de acervos pouco adequados. Quando a cidade foi inaugurada em 1897, as responsabilidades da iniciativa foram repassadas por doação à Prefeitura de Belo Horizonte. Sobre a história dessa biblioteca, BRETTAS (2010), reconstrói o seu percurso apresentando dados significativos que envolvem, além de mudanças de endereços, censura de obras e descaso público, outros elementos que contribuíram para o seu desfecho, ocorrido em 1963. 

Quanto à Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, esta foi criada em 1954 no governo de Juscelino Kubitschek, sendo projetada por ninguém menos que Oscar Niemeyer. A proposta arquitetônica desde o início gerou entusiasmos, dado o seu formato com linhas sinuosas características do arquiteto, com resultado que lhe permite constar nas listas de belas edificações de bibliotecas brasileiras.

Ao ser inaugurada, em 1961 recebeu o nome de Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, mas desde 2017, o nome foi reintegrado para Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, providência que visa fortalecer elos de mineiridade com seus públicos, marcando em evidência que é a biblioteca da cidade e do estado. O edifício, contudo, presta homenagem ao intelectual e servidor público Luiz de Bessa. 

Com acervo formado por mais de 570 mil exemplares, a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais realiza ações que movimentam a busca por vários de seus serviços, chegando a receber cerca de 300 mil visitantes ao longo do ano (SILVEIRA, 2018). 

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Figura 2. Arte em exposição – Galeria saguão do prédio sede

Tendo por missão reunir, organizar, preservar e disseminar a bibliografia mineira e obras de diferentes áreas do conhecimento, é uma Biblioteca que se insere também como espaço propício ao ambiente turístico. O edifício, que conta com 2 teatros, galeria de arte e áreas para exposições, está integrado junto a outros equipamentos culturais que compõem o Circuito Cultural Praça da Liberdade, dos quais fazem parte o Centro Cultural Banco do Brasil, o Espaço do Conhecimento UFMG, o Museu das Minas e do Metal, o Palácio da Liberdade e outros.  

Além de acervos e serviços, a Biblioteca Pública Estadual possui em sua área externa a famosa obra “O Encontro Marcado”. São esculturas em bronze, que apresentam “os quatro cavaleiros do Apocalipse”, posicionadas próximos à portaria principal. As estátuas representam Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino, escritores de renome da literatura mineira e brasileira. Muitos que passam nas imediações da Praça da Liberdade ou em visita à Biblioteca, se permitem sentar e se deixar fotografar junto às esculturas. 

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Figura 3. Os quatro cavaleiros do Apocalipse. Murilo Rubião. Murilo e uma criança

Além dos quatro cavaleiros, em 2017, durante as comemorações do centenário do escritor Murilo Rubião, uma nova escultura em bronze foi inaugurada e se tornou graciosa no conjunto, nos possibilitando interpretar que o escritor caminha com o objetivo de se juntar aos amigos no Encontro Marcado. Um detalhe é que a estátua segura em uma das mãos uma edição do Suplemento Literário de Minas Gerais, periódico criado por ele. Todas as obras são de autoria do artista plástico Leo Santana.

Belo Horizonte é uma cidade que possui em sua área urbana várias esculturas em tamanho natural que homenageiam escritores mineiros, dos quais: Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Roberto Drummond e creio, apenas uma mulher, a poeta Henriqueta Lisboa. Importante, porém, refletir sobre a desigualdade da representatividade feminina nas áreas urbanas das cidades.

Voltando à Biblioteca Pública Estadual, vale destacar suas preciosidades. Chamadas de Coleções Especiais, que de acordo com o site da instituição “são cerca de 90.000 exemplares distribuídos nas seguintes coleções: Mineiriana, Obras Raras, Memória Infantil, Patrimonial, Artes, José Alcino Bicalho, Rita Adelaide e Hemeroteca Histórica.”  Os materiais estão instalados no prédio oficial e em salas amplas e bem cuidadas.

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Figura 4. Áreas internas da Biblioteca Pública Estadual (prédio principal)

De todos os espaços, porém o que mais me encanta nessa Biblioteca é a seção infantojuvenil, carinhosamente chamada de BIJU. Além de dispor de amplo acervo de livros, revistas, quadrinhos, muitos disponíveis para empréstimos, é um espaço claro, lúdico, acessível e muito agradável.  Entre as ações, ali realizadas, consta programação com atividades como rodas de leitura e contação de histórias.

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Figura 4. BIJU. Setor Infantojuvenil.

Não há como negar a privilegiada localização da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais; contudo, apesar desse ponto positivo, é impossível não pensar que com o crescimento expressivo da cidade, nos seus 123 anos de existência, com população estimada em 2.521.564 de habitantes (IBGE, 2020), essa biblioteca permaneça ainda com a função de dar atenção ao todo. 

 

Será que moradores de áreas distantes utilizam com facilidades essa biblioteca e seus serviços?

 

É necessário refletir até que ponto o poder público tem investido em prol de bibliotecas, com criação de novos edifícios tão amplos e bem equipados quanto o da Biblioteca Pública Estadual, porém, localizados nas zonas de expansão periféricas das cidades. 

O que se pode dizer em termos de expansão, em Belo Horizonte, no âmbito da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais? Em 2000, o governo do estado providenciou a incorporação de um anexo. O prédio Professor Francisco Iglésias, localizado na rua da Bahia e muito próximo ao edifício oficial.

O espaço oferece áreas para estudos, computadores com acesso à Internet e amplo acervo para empréstimos. Em termos de área e ambiente, trouxe melhor acomodação para grande parte do acervo, bem como para o acolhimento dos frequentadores. Apesar dessa medida, deixo, porém, uma indagação: será que moradores de áreas distantes utilizam com facilidades essa biblioteca e seus serviços?

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Figura 5. Parte do prédio Anexo da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais

Desde junho de 2019, o edifício anexo foi fechado para dar início às obras de reforma do telhado e do forro, que apresentavam problemas de infiltração. Felizmente, uma necessidade em vias de ser sanada, haja vista que muitas bibliotecas no Brasil vivem sobressaltos quanto ao abandono de estruturas físicas, falta de verbas para manutenção, recursos para viabilização de projetos e, em alguns casos, problemas com redução de funcionários. 

Fico contente por dar início a esta coluna com informações sobre a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, por ser uma biblioteca tão familiar para mim, pois de fato costumo visitá-la, às vezes apenas como passeio, outras vezes para pegar livros emprestados e muitas vezes apenas para sentar um pouco, para ler e me deixar ficar.

É isso, gosto do tema biblioteca e cidade e espero poder gerar por meio desta coluna visibilidade para bibliotecas públicas e seus condicionantes no ambiente urbano.

 

Bibliografia

BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DE MINAS GERAIS. Disponível em: http://www.bibliotecapublica.mg.gov.br/index.php/pt-br/. Acesso em 5 out. 2020.

SILVEIRA, Fabrício José Nascimento da. Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais: percurso histórico e dinâmicas de inserção social InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeirão Preto, v. 9, n. 1, p. 146-167, mar./ago. 2018. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/article/download/64198. Acesso em 7 out. 2020.

BRETTAS, Aline Pinheiro. A biblioteca pública de Belo Horizonte: o legado cultural de uma sociedade literária. Inf. Inf., Londrina, v.15, n.02, p.93-108, jul./dez. 2010. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/5257. Acesso em: 5 out.  2020.

Fotos: Soraia Magalhães.


O texto é parte integrante da Revista Tantas-Folhas, edição v.1, n.1 (2020)

Soraia Magalhães

Soraia Magalhães é amazonense, escritora de livros infantis e viajante frequente. É criadora do blog Caçadores de Bibliotecas, espaço onde vem apresentando ao longo de mais de 10 anos, informações sobre ambientes culturais diversos do Brasil e outros países. No âmbito acadêmico tem formação em Biblioteconomia e Mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia, ambas pela Universidade Federal do Amazonas.  No momento atual, desenvolve estudos junto ao Programa de Doutorado Formación en la Sociedad del Conocimiento , pela Universidad de Salamanca, Espanha com tese que analisa a condição da biblioteca pública no estado do Amazonas. Ver mais Bibliografia Soraia Magalhães

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