Filosofia na educação, uma aproximação
É por isso que se mandam as crianças à escola: não tanto para que aprendam alguma coisa, mas para que se habituem a estar calmas e sentadas e a cumprir escrupulosamente o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que têm de pôr em prática as suas ideias.
Immanuel Kant
Para todos aqueles alheios a essa disciplina, a filosofia pode ter uma imagem um tanto cinzenta, áspera demais ou teórica demais. Por isso vou destacar aqui o grande mérito de “Merlí Bergeron”, professor de filosofia em Merlí, série de televisão produzida pela TV3 francesa sobre um professor de filosofia que, usando alguns métodos pouco ortodoxos, incentiva seus alunos a pensarem livremente – dividindo as opiniões de alunos, professores e famílias, ele faz com que a filosofia seja percebida, aplicada, sentida e não apenas lida ou teorizada.
Para alguns, esta disciplina é a mãe de todas as disciplinas atuais do conhecimento, pois fala da vida e faz uma série de questionamentos que giram em torno dela. Portanto, que melhor maneira de mostrar a filosofia do que através da própria vida, exemplificando essencialmente em sua natureza mais profunda, neste caso, a vida de seu protagonista, que dá nome à própria série?
O ensino vem se mostrando uma cadeia de produção com planos de estudos padronizados para formar deprimidos.
A função da filosofia nas escolas é exatamente esta. Nos tornar seres pensantes e críticos, que não se deixam levar pela opinião de uma mídia em massa, e querem buscar sempre conhecimento para poder aprofundar-se nos assuntos com os quais nos defrontamos, mas tendo condições de debater com argumentos inteligentes e válidos. É o que nos torna cidadãos politizados que estão sempre lutando pelo seu espaço e por direitos, cidadãos capazes de se rebelarem contra aqueles que tentam lhes impor alguma verdade.
A filosofia jamais nos dirá qual é a verdade, mas vai ajudar-nos a desmascarar as mentiras que nos vendem como verdades em uma sociedade competitiva por excelência. E isso se manifesta desde o ensino fundamental. O ensino vem se mostrando uma cadeia de produção com planos de estudos padronizados para formar deprimidos.
Você não acha estranho que uma sociedade que promove pesquisas sobre a felicidade, seja uma fábrica de neuróticos e entristecidos?
Preste bem atenção e mantenha-se informado, a informação é o melhor antibiótico.
Me parece que o desinteresse dos alunos por filosofia cai muito na conta de um sistema educacional que parou de perguntar: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?
A filosofia serve para refletir sobre a vida, sobre o ser humano. Para questionar as coisas. Provavelmente, é por isso que a querem eliminar, não? Consideram-na perigosa.
Eduardo Marinho diz que quando a criança entra na escola, uma das primeiras coisas que ela vai ouvir é: “Você não pode se divertir enquanto você aprende, você vai deixar para se divertir na hora do recreio.”
Com isso, já está sendo enquadrada para quando chegar na idade adulta aceitar o trabalho como um sacrifício, não como um prazer, fazendo com que o indivíduo deixe para viver nas horas vagas.
É aí que você vê as pessoas loucas por uma sexta-feira, e em depressão na segunda feira.
Para encerrar este breve artigo, trago uma reflexão de Friedrich Nietzsche, filósofo existencialista alemão, para quem o mundo pode ser dividido em dois tipos de pessoas:
As que seguem suas próprias vontades; e as que seguem a vontade dos outros. O primeiro tipo é forte e não deixa ninguém o dominar; o segundo é fraco e só faz o que os outros fazem e dizem, é submisso e acaba aceitando as ideias da maioria.
Nos anos 1930, na Alemanha, as pessoas aceitavam o que a propaganda nazista dizia repetidamente.
Para esses, com toda sua amargura, Kant disse:
“O ser humano é o único animal que precisa de um líder para viver.”
O texto é parte integrante da Revista Tantas-Folhas, edição v.2, n.2 (2021).
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Além da castração promovida pela escola/trabalho, vejo a sobrecarga de tarefas (em ambos ambientes) como mecanismo auxiliar desse processo que você descreve. Além de nós tirar as ferramentas para pensar, nós tiram o tempo para isso.
Isso trataremos de psicologia do inconsciente, impor uma razão e fazê-la se manifestar nas ações e sentimentos a fim de beneficiar tudo e quaisquer assuntos, menos o indivíduo que lhe é imposto. São épocas de acendimento de luzes.
Uma abordagem incrível sobre um tema que necessita de luz, precisamos ver e desenvolver um pensamento crítico para que a mudança seja, ao menos, uma opção.
Maravilhoso, Rafael Calebe! Amo seu trabalho
Gratidão Isa! Época de acendimento de luzes… Amo seu trabalho também!