TANTAS-FOLHAS
Ensino de história africana: roda de samba

Aprendendo com os tambores: reflexões sobre o ensino na matriz africana


Ensino de história africana: a descoberta
A descoberta da terra (1941), Candido Portinari.

Desde 2003 o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira é obrigatório no Brasil. Mas como esses conteúdos são ensinados? Este texto é uma chamada para pensarmos sobre as formas de ensino e aprendizagem presentes nas culturas de matriz africana como serão ensinados, e como elas dialogam com a nossa educação escolar.

Será que os mesmos procedimentos e metodologias utilizados para o ensino da história europeia e ocidental devem ser replicados? Ensinar a história africana valendo-se exclusivamente de materiais escritos é desfigurar a dimensão dos saberes próprios de suas sociedades originais. 

Precisamos refletir sobre o que é conhecimento para as sociedades africanas e como ele é tradicionalmente produzido e ensinado. Compreender as formas de transmissão do conhecimento na mátria africana é essencial para pensarmos as práticas culturais na diáspora, capazes de nos ensinar histórias, visões de mundo e fundamentos ontológicos. 

Os professores brasileiros vêm se contorcendo para ensinar história africana e afro-brasileiras nas escolas e se deparam frequentemente com a ausência de materiais didáticos de qualidade, com a falta de formação adequada na temática étnico-racial e com uma metodologia inadequada para efetivar as propostas da lei 10.639/2003. 

Neste texto busco apresentar os princípios de uma epistemologia africana, discutindo como o conhecimento é processado e transmitido nestas sociedades. Compactuo com a perspectiva da Unidade Cultural Africana de Cheikh Anta Diop, que aponta a existência de elementos culturais compartilhados pela maioria dos povos africanos, escondidos “sob ilusórias aparências de heterogeneidade” [1]. A produção de saberes no continente africano reflete esta Unidade Cultural Africana,  já que as características básicas estão presentes nos processos educativos de diferentes sociedades do continente.

Carnaval nos arcos
Carnaval nos arcos (1961), Heitor dos Prazeres.

Destaco a oralidade, a performatividade, a musicalidade e a corporalidade enquanto características próprias da epistemologia africana amplamente presentes por todo o continente e nas culturas afro-brasileiras. Estas características são fundamentais nos processos de ensino-aprendizagem cultural e não podem mais ser negligenciados na educação das relações étnico-raciais. 

Com o objetivo de oferecer uma metodologia para o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira condizente com a cosmologia e a epistemologia de base africana, apresento aqui sugestões de como a temática pode ser trabalhada em sala de aula levando em consideração as formas de produção dos saberes nas sociedades africanas, transmitidas para as culturas diaspóricas. 

A intenção é apresentar propostas educativas que tragam a dimensão do conhecimento própria da matriz africana, capazes de produzir uma aproximação dos estudantes ao conteúdo estudado. Assim, busco contribuir para a autoafirmação da identidade negra entre os afrodescendentes e para a desconstrução de estereótipos em relação às sociedades africanas, tratadas como “primitivas” e “menos evoluídas” pelo olhar colonial. O objetivo principal é efetivar uma educação antirracista e multicultural capaz de enxergar a África e os africanos enquanto produtores e difusores de saberes e reconhecer as músicas, as danças, as performances negras como fontes de conhecimento, valorizando o repertório cultural afro-brasileiro.

Na África, a história é cantada e dançada

A História é fundamental para a África. A concepção africana de tempo é guiada pela excessiva preocupação com a harmonia comunitária em rituais, ações e pensamentos [2]. O passado garante a identidade do grupo, de forma que narrar o passado, contar histórias, é parte essencial do conhecimento africano [3].

 

A tradição oral é a principal forma de se contar histórias na África

 

Por toda a África, contadores de histórias eram pessoas importantes, com conhecimento acumulado e com a função social de educar os mais novos, recontando genealogias, transmitindo aforismos e narrativas de fundo moral [4]. Tais Histórias não eram transmitidas tal qual o modelo europeu, através de documentos e livros escritos. A tradição oral é a principal forma de se contar histórias na África, sendo sua metodologia há muito debatida e validada enquanto forma de conhecimento privilegiado para acessar os passados históricos africanos [5].

Ensino de história africana: frevo
Frevo (1966), Heitor dos Prazeres.

Corporalidade, musicalidade e performatividade fazem parte das tradições orais. Contar uma história não depende apenas das palavras, em geral, o ato é acompanhado por performances, gestos, expressões corporais e faciais que dão vida à narrativa, que trazem emoção e geram empatia. As músicas e seus instrumentos musicais fazem parte dos materiais utilizados no ato de contar histórias. O gesto e toda a performance corporal são partes constitutivas da oralidade e de sua expressão.

As tradições orais devem ser entendidas como literatura oral, sendo necessário embrenhar-se nas representações mentais das sociedades que as criaram e entender o contexto de elaboração e difusão destas narrativas [6].

As palavras têm poder de criar realidades e não devem ser usadas sem reflexão. As músicas veiculam histórias, valores morais, conceitos e regras sociais. Há algumas histórias que só podem ser narradas se acompanhadas pelo devido instrumento, de uso exclusivo destes contadores de história, como os dieli.

“Os instrumentos dessa música sagrada são, portanto, verdadeiros objetos de culto, que tornam possível a comunicação com as forças invisíveis. Por serem instrumentos de corda, sopro ou percussão, encontram-se em conexão com os elementos: terra, ar e água.” [7]

A música africana tradicional revela o sistema de conhecimento ancestral, capaz de dar a conhecer a filosofia, a organização social e os valores de um povo. A música africana é uma forma de educar as gerações de acordo com a cosmologia que rege aquele povo. Através da música, conhece-se histórias, memoriza-se com facilidade informações antigas que guiam e orientam no presente, sendo, portanto, uma ferramenta importantíssima na transmissão de conhecimentos nas sociedades africanas [8]. A música fortalece a memória individual e social, fundamental na preservação e na continuidade dos elementos culturais dentro das sociedades [9].

Ciranda
Ciranda (1952), Djanira da Motta e Silva.

O canto, a música e a dança são as expressões mais genuínas e vitais dos povos centro-africanos, capazes de criar coesão comunitária e compartilhar seus valores sociais e cosmológicos [10].

A vida social dos povos africanos é “fortemente rítmica, ritualística e performática” [11]. Corpo, música e memória se articulam, indissociavelmente, em timbres que configuram os momentos históricos comunitários capazes de guardar e transmitir as culturas sob o regime de oralidade.

Por toda a África e nas tradições construídas na diáspora, a dança é “uma forma de conhecimento, que não é apenas mental, mas passa através da experiência dos sentidos e das emoções” [12].

Saberes africanos em diáspora

Ensino de história africana: arcos da Lapa
Samba nos arcos da Lapa, Heitor dos Prazeres.

As noções de conhecimento e educação foram transportadas na diáspora, de forma que a metodologia das tradições orais é igualmente importante para pensar a cultura afro-brasileira:

Ora, não há dúvidas que existiu e ainda existe no Brasil uma tradição oral bastante viva, de origens francamente africanas e que constitui uma verdadeira herança de conhecimentos de todas as ordens, transmitidos de boca em boca através dos séculos, apesar de um contexto particularmente hostil e de um desenraizamento brutal devido à escravidão. Esta herança é constituída de inúmeras “palavras organizadas”: fórmulas rituais, rezas, cantos, contos, provérbios, adivinhações… algumas em línguas africanas, e outras, as mais numerosas, em português [13].

A arte tornou-se a espinha dorsal das culturas políticas africanas e da sua história cultural no Novo Mundo. A música africana na diáspora é “ao mesmo tempo, produção e expressão dessa transvalorização de todos os valores precipitada pela história do terror racial no Novo Mundo” [14]. 

A função social da música enquanto mantenedora de conhecimentos, fundamentos e valores sociais foi transportada para o Brasil e colocada em prática nas diversas manifestações culturais afro-brasileiras. Através das músicas, acessamos mensagens históricas, nos aproximamos dos olhares dos agentes negros e percebemos suas formas de ver e compreender o mundo. E a música vem acompanhada de danças e performances da “oralitura” que completam seu significado.

A rainha Conga e professora de Letras da UFMG, Leda Maria Martins, mostra como as performances rituais das culturas de matriz africana valorizam o corpo:

Nas culturas predominantemente orais e gestuais, como as africanas e as indígenas, por exemplo, o corpo é, por excelência, o local da memória, o corpo em performance, o corpo que é performance. Como tal esse corpo/corpus não apenas repete um hábito, mas também institui, interpreta e revisa o ato reencenado. Daí a importância de ressaltarmos nessas tradições performáticas sua natureza meta-constitutiva, nas quais o fazer não elide o ato de reflexão; o conteúdo imbrica-se na forma, a memória grafa-se no corpo, que a registra, transmite e modifica dinamicamente [15].

Portanto, dançar é performar, inscrever. A performance ritual é uma grafia, um ato de inscrição praticada pelo corpo. As danças nas manifestações culturais afro-brasileiras transmitem mensagens que comunicam aspectos da história e da filosofia dos povos africanos em diáspora, através do corpo, da gestualidade, da relação com a terra, através da pulsação rítmica que dá origem ao movimento. Nas manifestações culturais afro-brasileiras, os movimentos corporais também são compreendidos para além da pura gestualidade:

As performances rituais, cerimônias e festejos, por exemplo, são férteis ambientes de memória dos vastos repertórios de reservas mnemônicas, ações cinéticas, padrões, técnicas e procedimentos culturais residuais recriados, restituídos e expressos no e pelo corpo. Os ritos transmitem e instituem saberes estéticos, filosóficos e metafísicos, dentre outros, além de procedimentos, técnicas, quer em sua moldura simbólica, quer nos modos de enunciação, nos aparatos e convenções que esculpem sua performance [16].

Assim, os participantes do rito gravam em seus corpos uma paisagem simbólica, cantam e dançam a memória de seus antepassados, recriam uma África originária, mítica, através da performance ritual, continuamente reatualizada. No âmbito da performance – com seus toques, cantos, figurinos, adereços, objetos cerimoniais, cenários – são expressas a cosmovisão filosófica e religiosa e reorganizam-se os repertórios textuais, históricos, sensoriais, orgânicos e conceituais que buscam na África a origem remota.

Gesto, Corpo

Ensino de história africana: roda de crianças
Sem título, Heitor dos Prazeres.

Os gestos possuem um significado e uma força criativa e que reestabelecem sentidos, que as palavras não são capazes de captar. Assim, para se alcançar as mensagens históricas presentes nas culturas afro-brasileiras devemos interpretar as danças, as músicas, os cantos e todo o simbolismo que conseguem mobilizar emoções e levar a esta conexão histórica e transcendente. Nas performances da oralidade, o gesto não é somente uma representação mimética de um aparato simbólico, propagado pela performance, mas institui e estabelece a própria performance. 

O corpo é entendido como articulador de mensagens, cujos movimentos transmitem saberes, contêm sentidos históricos, capazes de narrar episódios, rememorar personalidades importantes e venerar arquétipos da mitologia. Inaicyra Falcão fez um denso estudo sobre a dança dos orixás no candomblê nagô em uma proposta de arte-educação, em que os movimentos corporais são simbólicos e atuam como “elementos integradores na comunicação com o sobre-humano e disseminam mensagens” [17].

 

É necessário trazer a dança e toda sua simbologia para as salas de aula, interpretar gestos, “ler” os movimentos corporais, decifrar o sentido das músicas com suas metáforas, para acessar as mensagens históricas que transmitem.

 

A dança é uma linguagem que se realiza através do corpo e ocupa uma dimensão ampla nas culturas de matriz africana: conta uma história, imita e chama as forças da natureza, expressa sentimentos. 

Fu-Kiau destaca a importância do conjunto da performance negra composta pela tríade batucar-cantar-dançar para a “religação” do indivíduo ao cosmos. Estes três elementos não são apenas uma forma, “mas uma estratégia de cultuar uma memória exercendo-a com o corpo em sua plenitude. Uma espécie de oração orgânica” [18].

Zeca Ligiéro, ao desenvolver o conceito de “motrizes culturais”, entende o corpo como um texto, uma vez que “nele se corporifica uma literatura viva, desenvolvida a cada apresentação, refletindo o conhecimento que se tem da tradição” [19].

Se o desafio que temos à frente é ensinar a cultura afro-brasileira, é preciso que aprendamos a decodificar a “gramática” contida em suas músicas e danças. É necessário trazer a dança e toda sua simbologia para as salas de aula, interpretar gestos, “ler” os movimentos corporais, decifrar o sentido das músicas com suas metáforas, para acessar as mensagens históricas que transmitem.

Aplicando a epistemologia africana em sala de aula

As filosofias africanas, de forma geral, entendem as danças, as músicas e as palavras cantadas e narradas performativamente como instrumentos de transmissão de histórias e saberes, características estas que acompanharam os africanos em diáspora e são centrais dentro das culturas afro-brasileiras. Para implementar uma educação em conformidade com os princípios cosmológicos africanos, é preciso que estes elementos estejam presentes nas aulas. 

A proposta aqui busca a implementação efetiva da lei 10.639/2003 a partir da educação das relações étnico-raciais em uma perspectiva antirracista e multicultural. As culturas de matriz africana são essenciais para a construção e afirmação da identidade negra no Brasil, assim sendo, uma educação verdadeiramente antirracista deve levar   em    consideração as formas pelas quais o conhecimento é produzido e transmitido dentro destas culturas [20].

 

É importante que os espaços institucionalizados de ensino reconheçam esses Mestres como detentores de saberes, trabalhando assim para reverter o lugar social normalmente ocupado por eles, mas geralmente invisibilizados.

 

As culturas afro-brasileiras compõem o nosso patrimônio cultural imaterial, são mantenedoras de tradições, saberes e conhecimentos e também representam formas de se contar histórias. A matriz africana da produção e difusão dos conhecimentos é centrada na figura do(a) mestre(a): os mais velhos, os detentores da sabedoria. São eles que conduzem o processo de ensino-aprendizagem, que orientam os mais jovens e ensinam através de sua experiência de vida. Mestre é aquele que “corporifica assim a ancestralidade e a história de seu povo (…)” [21].

Assim sendo, as escolas devem convidar os mestres populares para compor a discussão sobre culturas afro-brasileiras: pais e mães-de-santo, sacerdotes, mestres de capoeira, jongo, tambor de crioula devem ter evidenciado seu lugar de professor/mestre, griots. É importante que os espaços institucionalizados de ensino reconheçam esses Mestres como detentores de saberes, trabalhando assim para reverter o lugar social normalmente ocupado por eles, mas geralmente invisibilizados. Uma forma de se efetivar a descolonização dos saberes é dar voz aos mestres e mestras populares, abrir-lhes espaço para que possam contar sobre sua trajetória de vida, cantar, apresentar sua arte.

Roda

Ensino de história africana: roda de samba
Roda de samba (1965), Heitor dos Prazeres.

Outro elemento fundamental das culturas africanas é a circularidade, a roda é a sala de aula, onde os conhecimentos são compartilhados. O círculo, presente na grande maioria das cerimônias públicas de origem africana, remete à ideia de harmonia e equilíbrio, possibilita a participação equânime de todos.  

A roda é socialmente um espaço especial que evoca imagens poderosas do status sagrado da força e tem potência de elevar a vibração dos participantes, colocando todos em uma mesma frequência [22]. O círculo representa também “voltar ao passado, aos ancestrais” [23], representa o eterno retorno ao tempo e ao espaço mítico, a constante repetição do que já foi, sem fim e sem começo. A roda de capoeira recebeu em 2014 o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO por ser um espaço ritualizado que reúne cantos e gestos que expressam uma visão de mundo, uma hierarquia, um código de ética, que revelam companheirismo e solidariedade [24].

 

A formação em roda é comum em diversas manifestações culturais da matriz africana e certamente os alunos já participaram de rodas diversas em suas vivências.

 

A formação circular permite que todos se olhem, que todos se escutem, que todos estejam presentes em igualdade. A roda é o lugar de socialização de conhecimentos e práticas; de aprender e aplicar saberes, de testar limites e inovações, em que cada um tem seu momento de se expor e de se expressar. O centro da roda é o local de destaque para o qual todos se dirigem e sua ocupação pode variar, sendo assumida por professores e alunos, sempre com respeito mútuo. A roda permite a democratização dos protagonismos, à medida que há revezamento do lugar central, em que todos têm direito da mesma maneira.

A formação em roda é comum em diversas manifestações culturais da matriz africana e certamente os alunos já participaram de rodas diversas em suas vivências. Organizar a sala de aula em roda ajuda-nos a romper com a linearidade e rigidez presentes na educação brasileira, em que uns estão à frente de outros, em que apenas o professor ocupa o lugar de destaque o tempo inteiro. A organização circular do espaço escolar está em consonância aos princípios sociais e filosóficos dos povos africanos, multiplicados na diáspora e permite que os estudantes aprendam compartilhando sentimentos e impressões.

Música

Ensino de história africana: no clima
No clima (1961), George Pemba.

A música é o meio pelo qual os conhecimentos são transmitidos na matriz africana. Composta por elementos verbais e não verbais, a música tradicional africana tem função social e metafísica e agrega aspectos religiosos, costumeiros, culturais e étnicos de uma dada coletividade [25]. A música e as habilidades performativas que a envolvem são essenciais em vários processos de socialização na África e em suas diásporas.

Os instrumentos musicais desempenham papéis fundamentais no processo de ensino-aprendizagem.  Além de ditar o passo das danças e mediar a transmissão de ensinamentos, os instrumentos musicais constituem um meio privilegiado de comunicação com a ancestralidade. Em muitos grupos, os tambores são os guardiões da memória, conservam os valores tradicionais e os códigos da identidade entre as gerações. Os instrumentos e a música, de forma geral, funcionam como mediadores do conhecimento, como livros e cadernos que transmitem mensagens e histórias, muitas vezes adquirindo caráter sagrado [26].

Os professores devem apresentar instrumentos musicais de origem africana nas salas de aula, ensinando o respeito e reverência que se deve ter em relação a eles e mostrando sua importância social na transmissão de saberes, tal qual o livro para a cultura ocidental.

Cantos

Ensino de história africana: sambistas
Sambistas, Heitor dos Prazeres.

Os cantos trazem a manifestação verbal dos conhecimentos. De forma geral, as músicas da matriz africana são executadas na dinâmica coro-solo, em que o coro é cantado por todos os participantes, repetida como um mantra, e um solista “puxa versos”, improvisando dentro de uma base tradicional de conhecimentos compartilhados. O solista é socialmente reconhecido como “sábio”, capaz de conduzir os cantos mantendo coerência, métrica e ritmo enquanto desenvolve uma narrativa.

A linguagem metafórica predomina nos cantos da matriz africana. Provérbios, advinhas, adágios são característicos do repertório oral africano e parte constitutiva da educação do tipo tradicional, em que decifrar um provérbio faz parte das habilidades intelectuais a serem adquiridas.

 

As músicas revelam valores, sentimentos, aspirações e podem trazer aspectos da história em que foram concebidas.

 

Para compreender o significado das músicas da matriz africana, é necessário desvelar as metáforas e para isso é preciso adentrar no universo simbólico compartilhado pela comunidade. Muitas vezes as metáforas estão associadas à natureza, como “bem-te-vi jogou gameleira no chão” (corrido de capoeira) ou “chumaço de aroeira, eixo de jacarandá” (ponto de candombe) em que é necessário ter conhecimentos-prévios sobre o meio-ambiente para compreender o sentido dos cantos. Outros cantos trazem informações sobre as sociedades a que se referem, formas de trabalho e organização social. As músicas revelam valores, sentimentos, aspirações e podem trazer aspectos da história em que foram concebidas. 

Os professores devem utilizar as músicas da cultura popular afro-brasileira como fonte da história dos africanos e seus descendentes no Brasil, buscando perceber as vozes dos sujeitos que as compuseram. Quais as situações vivenciadas pelos personagens das músicas? Qual o contexto histórico que ambienta o enredo? Quais sentimentos e mensagens históricas trazem? É interessante perceber também a origem etimológica das palavras que compõem as canções com atenção à presença das línguas africanas e sua sonoridade.

Dança

Dança
Dança (1965), Heitor dos Prazeres.

As danças apresentam as mensagens através dos corpos e podem também ser entendidas como fontes para acessar o universo cosmológico e os sentimentos dos africanos e seus descendentes. Observem a ginga da capoeira, os gestos dos moçambiqueiros e congadeiros, os passos dos caboclos do Bumba-Meu-Boi [27]. Quais sentidos e mensagens os movimentos corporais transmitem? Quais são os símbolos, gestos e ornamentos que compõem a performance corporal?

 

Os corpos de africanos e africanas no mundo Atlântico foram o instrumento principal para veicular a memória e a identidade, logo, a História desses grupos.

 

Ao se trabalhar com a cultura afro-brasileira nas escolas, deve-se permitir aos alunos também se expressarem através de seus corpos. Ao contrário da postura sentada e ereta que se espera nas demais aulas, ao se tratar este conteúdo, deve-se incentivar a movimentação corporal, a vibração, o balanço, a ginga. Através dos corpos o conhecimento é adquirido, dançar ou performar é uma forma de compreender o mundo e de transmitir mensagens. 

Essa perspectiva epistemológica do corpo-território foi trazida por Beatriz Nascimento ainda na década de 1980, que explicou de forma poética e afrocentrada como os corpos negros carregam saberes profundos. O conceito de Ôrí possibilita o entendimento da construção da memória coletiva ancorada em corpos negros [28]. Os corpos de africanos e africanas no mundo Atlântico foram o instrumento principal para veicular a memória e a identidade, logo, a História desses grupos. A autora também apresenta a ideia do quilombo como território corporal, como espaço simbólico de construção de coesão grupal. O corpo negro é, assim, memória, identidade, território, lugar central da existência e resistência dos negros nas Américas. 

Para a compreensão das culturas africanas e suas diásporas é fundamental recuperarmos essa dimensão do corpo enquanto veiculador de identidades, valores, mensagens históricas e cosmologias, capaz de preservar ou restaurar conhecimentos, gostos e epistemes conectados a heranças culturais.

Considerações finais

Para avançarmos no ensino sobre as populações africanas, é necessário, primeiramente, evidenciar o papel de agentes dos africanos e seus descendentes na diáspora, que apesar de toda a brutalidade da escravidão, lembraram de suas histórias, colocaram em prática seus princípios filosóficos, recriaram sociabilidades nos terreiros, irmandades, nas rodas. É importante ressaltar a capacidade criativa e inventiva dos africanos que conseguiram imprimir aspectos relevantes de suas histórias na cultura brasileira. É preciso, portanto, desmistificar a falsa ideia de que os africanos se esqueceram de suas origens, e que assimilaram a cultura branca que lhes soava como superior, enterrando de vez as concepções evolucionistas que classificam as culturas entre primitivo e civilizado. 

É preciso reconhecer o repertório cultural afro-brasileiro como fonte histórica, viva e pulsante, que permite conhecer histórias, filosofias e visões de mundo partilhadas pelos povos africanos e seus descendentes na diáspora. No presente momento em que buscamos uma descolonização dos saberes, é importante trazer de forma positiva os esquemas conceituais africanos capazes de substituir os modelos eurocêntricos de educação [29]. 

A musicalidade, a corporalidade e a performatividade estão conectadas nesta cadeia epistemológica de matriz africana. Assim, esta proposta contribui para a efetivação de uma educação antirracista e multicultural, que reconheça a importância dos africanos e seus descendentes na construção da cultura nacional, e que apresente esta cultura como fonte de conhecimentos e saberes [30]. É uma proposta para se trabalhar com o rico repertório cultural afro-brasileiro em sala de aula, reconhecendo sua importância enquanto fonte histórica a partir da análise de seus elementos fundamentais. As danças, músicas e performances de matriz africana conduzem a aprendizagem de forma plena e indissociável da vida comunitária, celebrando a memória coletiva e mostram que a história pode ser contada de forma prazerosa e criativa.

 

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Documentário

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Notas

[1] DIOP, Cheikh Anta. Unidade Cultural da África negra- esferas do matriarcado e do patriarcado na Antiguidade Clássica. São Paulo: Pedago, 2016.

[2] NYANG, Sulayman. Essay Reflections On Traditional African Cosmology. New Directions: Vol. 8: Iss. 1, Article 8. Disponível em: http://dh.howard.edu/newdirections/vol8/iss1/8

[3] HAMA, Boubou; KI-ZERBO, Joseph. Lugar da história na sociedade africana. Em: KI-ZERBO, Joseph. (Org.) História Geral da África: metodologia e pré-história da África. 2 ed. rev. Brasília: Unesco, 2010. P.24.

[4] KI-ZERBO. História Geral da África. Vol. I. Metologia e pré-história da África. 2ªed. Brasília: Unesco, 2010.

[5] VANSINA, Jan. A tradição oral e sua metodologia. Em: KI-ZERBO, J. História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África– 2ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010. VANSINA, Jan. De la tradition orale, essai de méthode historique. Musée Royal de l’Afrique Centrale. Tervuren, Annales Sciences Humaines. nº16, 1991.

[6] VANSINA, Jan. A tradição oral e a sua metodologia. Em: KI-ZERBO, op. Cit. 

[7] HAMPATE BA, 2010, P.200.

[8] NZEWI, Meki. 2007.

[9] MUKUNA, Kazadi wa. Contribuições bantu para a música popular brasileira. São Paulo: Terceira Margem, 2000. P.32.

[10] MUNGUELE KIYUNGU, Jean Baptiste. Dinamismo cultural bantu e religião; o resgate das estruturas simbólicas bantu. Dissertação de mestrado em Ciências da Religião. PUC-SP, 2003. P.41

[11] ANTONACCI, Maria Antonieta. Memórias ancoradas em corpos negros. São Paulo: Educ, 2013, p.228

[12] BÁRBARA, Rosamaria. A dança das Aibás:  a dança corpo e cotidiano das mulheres de Candomblé. Tese de Doutorado em Sociologia. Universidade de São Paulo, 2002, p.133

[13] BONVINI, Emilio. Tradição oral afrobrasileira: As razões de uma vitalidade. Projeto História. São Paulo, (22), junho 2001, p.40

[14] GILROY, Paul. Black Atlantic: modernity and double consciousness. Cambridge: Havard University Press, 1993. P.94-129.

[15] MARTINS, Leda. Performances do tempo espiralar. In: RAVETTI, Gracilela; ARBEX, Márcia (Orgs.) Performance, exílio e fronteiras: errâncias territorias e textuais. Belo Horizonte: Departamento de Letras Românicas; Faculdade de Letras/ UFMG: Poslit, 2002, p.88

[16] MARTINS, Leda Maria. Op. Cit. Pp.71-72.

[17] SANTOS, Inaicyra Falcão dos. Corpo e Ancestralidade: uma Proposta Pluricultural de dança-arte-educação. 2ª. ed. São Paulo: Terceira Margem, 2006.

[18] FU-KIAU. Bulwa meso, master’s voice of Africa. Apud LIGIÉRO, Zeca. Batucar-cantar-dançar. Desenho das performances africanas no Brasil. In: Aletria. N.1, v.21, jan-abr 2011.

[19] LIGIÉRO, Zeca. O conceito de “Motrizes culturais” aplicado às práticas performativas Afro-brasileiras. In: Revista Pós Ciências Sociais. V. 8, n.16. São Luiz, 2011. Muniz Sodré também traz a importância do corpo nas culturas afro-brasileiras. SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad Editora, 1998.

[20] GONÇALVES, Petronilha. Aprendizagem e Ensino das Africanidades Brasileiras. Em: MUNANGA, Kabenguele (org.). Superando o racismo nas escolas. 2ª edição revisada. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. Pp.155-172.

[21] ABIB, Pedro. Capoeira Angola: cultura popular e o jogo de saberes na roda. Tese de Doutorado em Ciências Sociais aplicadas à educação. Unicamp, 2004.

[22] DESCHI-OBI. Figthing for Honour: The History of African Martial Art Traditions in the Atlantic World. Columbia: University of South Carolina Press, 2008. P.40

[23] MARTINS, Suzana M.C. A dança de Yemanja Ogunte sob a perspectiva da estética do corpo. Salvador: EGBA, 2008, p.43

[24] http://cultura.gov.br/roda-de-capoeira-recebe-titulo-de-patrimonio-cultural-imaterial-da-humanidade/ acesso em junho de 2020.

[25] MAPAYA, Madimabe Geoff. The Study of Indigenous African Music and Lessons from Ordinary Language Philosophy.   Mediterranean Journal of Social Sciences, V. 5, nº.20 September 2014.

[26] Ki-Zerbo. Introdução Geral. História Geral da África. VOl. I.

[27] Para os significados históricos contidos no movimento ‘ginga’ da capoeira, ver: FONSECA, Mariana Bracks. Ginga de Angola: memórias e representações da rainha guerreira na diáspora. Curitiba: Brazil Publishing, 2019.

[28] Documentário ÔRÍ. Direção de Raquel Gerber. Brasil: Estelar Produções Cinematográficas e Culturais Ltda, 1989. RATTS, Alex. Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo:Instituto Kuanza; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.

[29] THIONG’O. W.N. Décolonizar l’esprit. Paris: La fabrique editions, 2011.

[30] THEODORO, Helena. Buscando caminhos nas tradições. Em: MUNANGA, Kabenguele. (org.) Superando o racismo nas escolas. 2ª edição revisada. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005, p.96.

 

O texto é parte integrante da Revista Tantas-Folhas, edição v.2, n.2 (2021)

 


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Mariana Bracks Fonseca

Mariana Bracks Fonseca é angoleira (Associação Cultural EU SOU ANGOLEIRO), é coreira do tambor de crioula Rosa de São Benedito, mãe de 3 filhos. Mestre e doutora em história social pela USP, com estágio pós-doutoral na UFMG. Autora do livro Ginga de Angola: memórias e representações da Rainha guerreira na diáspora, do livro em quadrinhos Rainha Ginga guerreira de Angola , entre outros. Professora de história da África no departamento de História da Universidade Federal do Sergipe (UFS).

4 thoughts on “Aprendendo com os tambores: reflexões sobre o ensino na matriz africana

  1. Mariana, gostei demais do seu artigo. Vou passar a referência para amigos, professores de História e de outras disciplinas. As imagens são lindas. Parabéns!

  2. Importante texto e reflexões para os professores, excelente contribuição do Tantas Folhas para a cultura e a educação.

Comentários